O olhar do Açor – Sandra Carvalho

22359330SINOPSE: A descoberta dos Açores, e todo o mistério e aventura que a envolveu, foi o mote para esta obra em dois volumes de Sandra Carvalho. É uma narrativa que entretece com mestria verdade histórica e ficção, a realidade da sociedade portuguesa do século XV e a fantasia das personagens e dos cenários imaginados pela autora. Neste primeiro volume, que se centra nas histórias de vida dos fidalgos, ganham principal relevância as figuras de Constance, uma nobre inglesa enviada para Portugal para se casar com Gonçalves Vaz, senhor da valiosa herdade de Águas Santas; Nuno Garcia, um corsário implacável; Leonor, fruto ilegítimo da paixão de Constance e de Diogo, o jovem corajoso, protegido de Nuno Garcia e que Constance conhece durante a viagem, Guida, a escrava negra que cresceu com Leonor, e Tomás Rebelo, o fidalgo malévolo que deseja assenhorear-se de Águas Santas. Intriga, ganância, amor, paixão, e uma aura de misticismo, num romance extraordinário.

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OPINIÃO: Se ainda não lês autores portugueses porque pensas que não há qualidade em Portugal, então estás enganado e não fazes ideia dos fantásticos autores que tenho vindo a conhecer desde que me iniciei nesta demanda de juntar mais da minha língua materna à estante.

Ainda assim não estás convencido?

Bem, temos pena. Tu é que perdes.

Estreei-me com Sandra Carvalho nesta sua segunda aventura.

A autora já é conhecida e aplaudida pela sua primeira série de 8 livros “A Saga das Pedras Mágicas”. Ainda não tive oportunidade de a ler, mas já consta na wishlist.

Criar um mundo é extremamente difícil. Requer uma enorme imaginação e muita dedicação e memória, para não dar lugar a falhas de lógica. Contudo, na minha humilde opinião, que também escrevo, o género de história mais complicado de compor é aquele que se situa no passado como nos é dado a conhecer. Isso sim, requer imensa atenção e estudo. A investigação é a base da ausência de erros.

Com isto, como posso não admirar uma autora que, apesar de ser tão jovem, já fez ambos?

O meu primeiro pensamento em relação ao livro “O olhar do Açor” é a semelhança com os mundos de Juliet Marilier. A proximidade com a natureza, o bom ambiente da casa, as artes curandeiras que roçam ligeiramente com a magia. O espaço da história é absolutamente delicioso, com descrições que não se estendem demasiado, são moderadas e bem construídas. Também as mulheres são personagens com força, lutando contra o seu destino imposto por terceiros. São criaturas apaixonadas e resistentes.

O grande segredo do enredo transporta a leitura com muita fluidez. As páginas são devoradas, ansiando o derradeiro encontro. Surgem outros personagens que nos põem já com um pé no volume seguinte, com a inquietação de ter de se esperar para conhecer o desfecho.

Há dois tipos de vilões. Há aqueles que acabamos por simpatizar e os desprezíveis. O vilão deste livro é absolutamente repugnante. É o verdadeiro “vaso ruim que não quebra”. Este tipo de vilão acaba por ajudar a criar empatia para com os outros personagens. Estamos constantemente a torcer pela intervenção de alguém que lhe dê uma dose do seu próprio remédio.

Este vilão é mesquinho, invejoso, mentiroso, manipulador, influente junto do poder, preconceituoso, racista e possessivo. Ele bate e viola mulheres, tece ambiguidade nos argumentos dos outros, vitimiza-se com mestria. É uma criatura muito bem construída que odeio, odeio e odeio!

Apreendi algum conhecimento relativamente às ilhas que desconhecia de todo. Identifiquei uma das minhas criações numa das personagens. Não faltou o toque obscuro e crueldade, afugentando o livro da leveza que aparenta.

Sandra Carvalho, entraste na lista de autores portugueses a ter em atenção.

Podem adquirir o livro AQUI!

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