Terra de lobos – Tünde Farrand

45416703._SY475_SINOPSE: Londres, 2050. A crise socioeconómica terminou e as políticas de incentivo ao consumismo não param de surgir.

Ser proprietário de terrenos fora da cidade é privilégio de uma elite, sendo que a restante população apenas obtém o seu Direito de Residência se o dinheiro que gastar for suficiente para alcançar um dos patamares do estatuto de Consumidor.

O envelhecimento foi abolido graças a uma nova e radical abordagem, que substitui a reforma por uma feliz eutanásia num Dignitorium, embora os mais desfavorecidos sejam deixados à sua sorte, longe da vista daqueles que efetivamente contribuem para a sociedade.

Alice é uma Consumidora Média. Depois do desaparecimento de Philip, arrisca-se a perder a casa e o seu estatuto social, começando a pôr em causa a sociedade em que foi criada e que o próprio marido ajudou a construir. Na demanda pelo paradeiro de Philip, ela acaba por descobrir algumas verdades horrendas acerca do que aconteceu à sua família no passado e da crueldade que se esconde por detrás da nova hierarquia social.

Terra de Lobos é uma poderosa visão distópica, no espírito de Black Mirror, que agradará a fãs de História de uma Serva e Nunca me Deixes.

OPINIÃO: Quantas vezes ouvimos o povo queixar-se da segurança social? Há alguém que não tenha ouvido ou feito vista grossa aos serviços públicos? Quem nunca sentiu a injustiça de uns trabalharem em prol de outros viverem de pensões, que coloque a mão no ar?

Claro que isto visto de modo generalizado é errado. Cada caso é um caso, mas a verdade é que a segurança social corre o risco de colapsar. Racionalizando, sentimos que o verdadeiro problema está na disparidade de certos salários públicos, em comparação com o salário mínimo nacional.

Vocês agora perguntam: “Ei, Andreia! Discursos políticos a esta hora?”

Longe de mim vir para aqui apelar a movimentos sociais, democratas, comunistas, capitalistas… quando nem eu sei o que fazer na hora de exercer o meu direito de voto.

Esta exposição sucinta serve para vos enquadrar na ideia que subjaz à distopia que encontramos neste livro.

Ao contrário de muitas histórias deste género, Terra de lobos não envereda pelo avanço tecnológico. A base da mudança futurista é muito palpável, porque assenta na economia, na sustentabilidade da sociedade a nível monetário. E o que é do monetário, nunca deixa de ser do social. O dinheiro e o conforto movem o mundo e, aqui, o limite foi alcançado e é doloroso de assistir.

A economia é um ciclo de oferta e procura. As pessoas ganham dinheiro porque trabalham, e trabalham para que os outros possam adquirir os produtos/serviços comercializados. Trabalhamos para fornecer e para poder adquirir. Simples e básico. Todo são trabalhadores e consumidores. Parece-vos bem? É uma realidade, certo? Quem trabalha mais aqui, mais usufrui. Porém, todos são OBRIGADOS a consumir. É lei. Há patamares para categorizar os consumidores. Se não consumir, desce de escalão, perde o conforto alcançado, chegando até a ter de mudar de casa.

As moradias são atribuídas pelo “Estado”, de acordo com o escalão.

À partida, parece apenas um sistema duro e stressante. Puramente pragmático e metódico..Ter de consumir para não perder o que se tem. Logo à partida, assumimos: aqui nada é nosso realmente. É nosso enquanto estivermos dentro do movimento social exigido.

Contudo, isto passa de rígido a assustador. Quem nunca esteve de baixa médica? Quem não conhece pessoas incapazes de trabalhar por motivos de saúde? É que já nem vou buscar o ideal da liberdade e tal. Refiro-me a situações práticas e físicas que não se encaixam neste modelo societário.

O que se faz com os velhos, com os deficientes, com os aleijados, com os doentes?

A criação do Dignitorium é de tal maneira pertinente nos dias de hoje que até arrepia! Estamos num período da história de relativizar e isso pode ser extremamente perigoso.

O tema que é trazido aqui tem vindo a ser discutido em todo o mundo. Já aceite nuns países e noutros ainda em estudo. Não se iludam ao pensarem que é fácil “legalizar” certos procedimentos porque o risco de abrir uma janela sem ferrolhos está no facto de ela poder vir a abrir portas que põem em causa o bem mais valioso que possuímos: a vida.

Refleti muito ao ler este livro. Não consegui deixar de visualizar certos caminhos da vida real que estão a tender em debruçar-se sobre algo próximo do que lemos aqui. Obviamente que o mundo descrito na história está hiperbolizado. Não sou fantasista ao ponto de acreditar que de um dia para o outro podemos acordar num sistema deste tipo. Mas que dá que pensar, dá.

Não gostei tanto do rumo que o enredo tomou no final. Pareceu-me forçado e pouco original. Já há filmes que exploram esses comportamentos.

O final é um pouco aberto, levando-me a questionar se haverá lugar a uma segunda parte. Gostava de saber o que fará a nossa personagem no estado em que ficou no fim. Além disso, outros pontos mencionados estão pouco aprofundados, pelo que me inclino a crer que vamos ter continuação. Eu queria…

Leiam! Convido-vos a pensar.

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